Cerca de metade dos casos de carcinomas de ovário apresentam falhas em um mecanismo de raparo do DNA chamado de recombinação homóloga (HRR – homologous recombination repair), cuja função é consertar danos na fita dupla da molécula. As neoplasias ovarianas que apresentam deficiência nesta via (HRD – homologous recombination defficiency) são especialmente sensíveis à quimioterápicos baseados em platina além de serem alvos de novas drogas chamadas de inibidores da enzima PARP (iPARP). A via HRR é complexa e suceptível à atuação de vários genes: ATM, BRCA1, BRCA2, BARD1, BRIP1, CHECK1, CHECK2, FAM175A, MRE11A, NBN, PALB2, RAD51c, RAD51D. Entre eles os genes BRCA1 e BRCA2 (BRACA 1/2) são os mais importantes. Na era da medicina personalisada, tornou-se importante saber se determinado tumor se desenvolveou usando a via da HRD, pois se assim for, o melhor tratamento pode ser indicado.
O desenvolvimento de testes para se caracterizar HRD se mostra um desafio técnico uma vez que trata-se de um mecanismo complexo, multifatorial. Entre as metodotologias clinicalmente disponíveis para se testar a via HRD duas se destacam: myChoice®CDx e FoundationFocus™ CDx BRCA LOH . A quase totalidade de estudos clínicos nesta área optou por usar o myChoice®CDx e essa abordagem será melhor explicada abaixo:
myChoice®CDx
O teste myChoice®CDx executa um sequenciamento do DNA tumoral por NGS e a análise se dá em duas etapas:
1) Pesquisa de Mutações no gene BRCA 1/2
2) Pesquisa dos efeitos da HRD no genoma através de:
a. Perda da Heterozigosidade (LOH)
b. Desequilíbrio Alélico Telomérico (TAI)
c. Transição de Estado de Grande Escala (LST)
1) Pesquisa de Mutações no gene BRCA 1/2
Por serem os genes mais frequentemente associados à HRD, a pesquisa de alterações no BRCA 1/2 possue um papel central nesta abordagem e irá identificar em torno de 50% das pacientes com HRD. As alterações dos genes BRCA 1/2 pesquisadas nesta etapa constituem: Variantes de nucleotídeo único (SNVs), Pequenas inserções e deleções (indels), Grandes rearranjos genômicos (LGR) / Variação do número de cópias (CNV). Caso seja identificado alterações patogênicas nessa análise, o teste será reportado como positivo. Importante citar que o teste myChoice®CDx é feito em tecido tumoral, portanto não é possível saber se a alteração detectada nos genes BRCA 1/2 é germinativa ou somática. Para se saber se a alteração é germinativa é necessário o sequenciamento completo do BRCA 1/2, associado à análises de deleções / duplicações ou MLPA no sangue ou saliva.
2) Pesquisa dos efeitos da HRD no genoma
Nesta etapa, não são procuradas mutações, mas os efeitos causados pela via da HRD no genoma, as chamadas cicatrizes genômicas. São feitos 3 análises: LOH, TAI e LST.
LOH | Consiste na perda de um gene ou genes de um único alelo, resultando portanto em perda de heterozigozidade.
TAI | Consiste em discrepâncias da razão 1:1 de alelos presentes no telomero do cromossomo, resultantes de translocações recíprocas.
LST | Consiste na quebra cromossômica de pelo menos 10 Mb.
Estas alterações se comportam como variáveis contínuas, pois se acumulam progressivamente no genoma. Para cada uma dessas análises é determinado um score e a soma deles resultam no score de instabilidade genomica (Genomic Instability Score – GIS). Quando o GIS for ≥42, o teste será reportado como deficiente na recombinação homóloga (HRD). Se o GIS for <41, o teste será reportado como proficiente na recombinação homóloga.
Um consórcio de laboratórios farmacêuticos disponibilizaram, sem ônus para as pacientes, um teste validado para pesquisa da HRD, baseado na metodologia do myChoice®CDx. Para serem elegíveis ao programa, as pacientes deverão preencher os seguintes critérios clínico-patológicos:
- Carcinoma do tipo seroso ou endometrióide de alto grau de ovário, trompa de falópio ou peritoneal
- Em 1a. linha de tratamento
- Estágio III ou IV
Para entrar no programa, qualquer médico que identificar a paciente com os critérios acima pode solicitar o teste para o Laboratório Lâmina, que incluirá a paciente no sistema, selecionará os blocos e fará o encaminhamento dos teste.
Dr. Marcos Segura
Médico Patologista e Citopatologista com título de especialista nestas duas áreas. Possui mestrado em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da UnB. Membro da Academia Internacional de Citologia.
Minha Filha tem 20 anos, está tratando um tumor de ovário + metastase com essas características. Realizou pesquisa de BRCA1/2.
Estamos com pedido para esse exame HRD.
Cara Edneia, lamento saber sobre sua filha. Discuta a disponibilidade do exame HRD com o médico oncologista dela. Estamos à disposição.
Onde é possível fazer o teste hrd? Quais laboratórios?
Oi Rebeca, o teste HRD é subsidiado pela industria farmacêutica. Converse com seu oncologista.
Olá em 06/2022 fiz histerectomia total acompanhada de anexectomia bilateral, omentectomia, linfadenectomia pelvica(bilateral), implante pararretal, implante sobre reto, produto de retossigmoidectomia segmentar e margem distal de retossigmoidectomia Carcinoma Seroso de Alto Grau acometimento de parenquima e superficie ovariana E, implante peritoneal sobre o reto LN0/10 compativel com FIGO(2014) IIB/pT2b pNO – IHQ AE1/AE3+RP+WT1+ focal MSH6 E PMS2 normal P53 anormal desmina – miogenina Delboni, na minha Biopsia foi solicitada pesquisa de Deficiencia de Recombinação Homologa – HRD. meu oncologista me deu a guia para realizar o exame, porem meu convenio não dá cobertura. Preciso de ajuda.
Regina, o exame de HRD é executado sem onus para o paciente por uma industria farmacêutica. Seu oncologista pode te orientar melhor.